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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Queda



Minha loucura mantém minha sanidade
Quando ela se perde, as bases se rompem
Estruturas desabam ao chão
Minha insanidade deixa saudade
A normalidade não me convém
Apenas exploro silêncio e solidão

Outrora havia sido mais fácil
O paraíso me era desconhecido
Apenas o fogo infernal era realidade
Mas o real por vezes é tão frágil
Ao conhecer o céu, ele não é esquecido
Nem pela maior das vontades

Como um demônio, eu obtive ascensão
Como um anjo, enfrentei aterrorizado a queda
É difícil enfrentar o inferno após ver o céu
Sem a loucura, minha sanidade se perde em emoção
E o que era verdade agora se enreda
Meus olhos negros não veem através do véu

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Apenas para Ti


Caminho lentamente pelas ruas de terra
Não sei à qual lugar meus passos irão me levar,
Em qual ponto meu caminho finalmente se encerra
Mas sei que até o fim irei te procurar
Enquanto os meus pés puderem caminhar
Enquanto os meus olhos puderem enxergar

E, talvez, até depois do novo início
Pois sem ti, meu coração não pode bater
Você tornou-se essencial, tornou-se um vício
E agora eu cato pedaços pra poder viver
Eu vivo do resquício que encontro de você
Já não faço nem ideia de como conter

A minha imaginação que vive a desejar
O toque da sua pele doce pra me aquecer
O sabor molhado dos seus lábios pra me acalentar
O romantismo do seu sexo pra nos dar prazer.
E nada nesse mundo irá me convencer
Que é algo impossível de acontecer

É a maior virtude que tem o amar
É saber aguardar.

terça-feira, 7 de maio de 2013

O Anjos caído


Vocês acreditam em anjos?

Eu fui criado para ser a luz. Eu fui criado para ser a inspiração de vocês. A luz que guiaria o caminho dos filhos mais novos.

Me tornei um de vocês para guia-los. Abandonei meus iguais para virar um humano, uma luz que os levaria à um novo alvorecer.

Mas o que vocês fizeram? Como me recompensaram? Há! Pisaram em minha cabeça e caminharam sobre meu corpo, quebrando cada um dos meus ossos.

Desculpem-me, mas o brilho que você viu em meus olhos não existe mais. A minha luz foi dominada por sombras.

Todo ser tem sombras que habitam dentro de si. Sombras que lutam para sair, que são contidas por lampejos de esperanças e compaixão. Sombras que dominam sua alma quando a esperança se esvai.

Hoje apenas olho para vocês, pequenos macacos sem pelo, e tudo o que eu sinto, é desprezo. Sinto as sombras ao meu redor, que se aproximam de meus ouvidos e gritam:

“ODEIE-os!”, elas gritam!

“odeie-os...”, elas sussurram.

"Odeie cada lampejo daquilo que você nunca terá, cada traço de felicidade que nunca preencherá seu vazio."

Minhas asas brancas tornam-se negras. Veja! E eu, que cheguei até aqui como um lampejo de esperança, agora, torno-me o contrário. Torno-me aquilo que sempre odiei, aquilo que jurei combater. Me prendo ao ódio trazido pelas sombras. O doce ódio que eu tenho o prazer de vos oferecer. O ódio que se aproxima do meu ouvido e balbucia aquelas palavras.

“DESTRUA-OS!” – Ele grita.

“destrua-os e odeie-os!” – Ele sussurra.

Eu me sinto amargurado. Pergunto-me onde estará meu pai agora, nosso pai. Pergunto-me por qual motivo essas sombras dominam meu peito. Por qual motivo eu me tornei isso. Oro e peço por respostas...

O silêncio é a resposta.

Apenas o silêncio.

O presente dos deuses


Um dia, há muito tempo, os deuses caminharam com os homens.

Ensinaram-nos a arte do sentir: a amor, a paixão, a felicidade, a euforia. Nos apresentaram à tristeza, à melancolia, ao ódio, à amargura, ao ressentimento e tantas outras emoções doces e amargas.

Os deuses então se foram e nos deixaram sozinhos. Conosco apenas permaneceu seus ensinamentos e presentes.

Os humanos, outrora felizes, perceberam então que tinham sido enganados. Receberam presentes cruéis, o dom do sentir, a desgraça do sentir.

Perceberam que os sentimentos bons eram poucos e, os ruins, incontáveis.

Se entregaram ao ódio e seus irmãos. Criaram desgraças.

Os Deuses melancólicos observaram à distância. Estavam tristes com o que os homens fizeram com o belo presente ofertado.

Os Deuses à distância se perguntaram, se perguntam, se perguntarão: Quando as crianças aprenderão a brincar?

Chamas


Eu caminhei por planícies verdes e atravessei montanhas cobertas de neve. Molhei meus pés na nascente de um rio, olhei para o céu e imaginei formas nas nuvens. Vi o mundo com os olhos de um recém-nascido. Tudo era tão novo. Tudo era tão maravilhoso.

Naquela noite eu dormira ao relento, com o frio gelando meus ossos e me fazendo tremer. Vislumbrei um flash de luz vermelha ao longe. Mesmo que distante, eu senti o calor em minha pele, mas meus ossos continuavam gélidos.

Logo o brilho foi se aproximando e as chamas se tornaram nítidas. Percebi um rastro de cinza que permanecia nos locais onde ela passou. Quando menos percebi, o mundo inteiro era feita de cinzas, com exceção do ponto em que eu me encontrava, já em pé, observando a doce destruição.

Aquelas chamas atraiam meus olhos e logo esqueci de tudo ao meu redor. As belas planícies verdes, montanhas cobertas de neve, nascentes de rios e formas no céu já não existiam mais. Tudo consumido pela devastação daquela incrível chama, que caminhava em minha direção.

Logo ela circundou meu corpo e ficou parada. Eu queria aquele calor. Estava fascinado por ele. Mesmo que meu corpo fosse destruído, valeria a pena, se eu sentisse a euforia daquele calor por um milésimo de segundo. Fechei meus olhos e aguardei.

Os segundos que passaram pareciam-se com milênios. Aguardei, mas as chamas não vieram. Elas circulavam meu corpo e deixavam apenas o campo florido aos meus pés. Todo o resto era cinza, produzido pelas chamas vermelhas que me fascinavam.

Eu queria aquele calor! Eu precisava daquele calor! Mesmo com todo o fogo, inexplicavelmente meu corpo encontrava-se gélido por dentro. Sentia apenas um leve calor produzido pelo fogo, que mal ultrapassava minha pele. Meus ossos tremiam e o frio era a única sensação existente.

“Queime-me! Aqueça-me, mesmo que depois apenas minhas cinzas sobrem. Me livre desse frio, mesmo que apenas a destruição me aguarde dentro do calor!” – Eu gritei. Mas as sombras permaneciam paradas, estáticas, olhando e sorrindo em desalento para os meus olhos.

Tentei correr em direção ao fogo, mas meus pés não se moviam. Apenas meu corpo tremia.

Permaneci parado em um campo florido dentro de um mundo feito de cinzas. Cinzas que que eram levadas ao ar por pequenas rajadas de vento. O mesmo vento que, vez ou outra, fazia o fogo se aproximar de mim, antes de retroceder novamente, causando um leve calor. Calor esse que jamais poderia me aquecer, mas mantinha aceso a esperança das chamas me alcançarem e me consumirem.

Sorri ao perceber minha mortalidade que me alcançaria em qualquer momento, pois esperar a eternidade pelas chamas que jamais viriam seria, sem dúvidas, o maior castigo imposto à um homem. Sabia que o frio um dia cessaria, enquanto eu observaria as chamas de longe, transformando o mundo em cinzas e gerando a destruição que eu nunca sentiria.

O que mais me entristeceu foi perceber que as chamas choravam de longe, ante a impossibilidade de se aproximarem de mim. Perceber que elas também desejavam me consumir, assim como eu desejava ser consumido por elas, mas estavam impossibilitadas de se aproximarem de mim.

E assim nosso encontro infrutífero continuaria, até o meu encontro final com a minha mortalidade ou o cessar do incêndio.