É difícil discursar sobre uma língua ser ou não falada corretamente. Vejo muitos teóricos na televisão discursando sobre a forma de falar corretamente, sendo que todas as formas de falar podem ser encaradas como corretas e, sendo encaradas assim, também podem ser encaradas como incorretas.
Mas esse preconceito é comum em todos os lugares. Alguns tentam argumentar que o português correto é aquele falado em Portugal, mas como podem falar algo assim, descartando o português falado no Brasil ou na Angola. E, ainda olhando esses países, certamente podemos encarar o fato de que, nem mesmo dentro deles, o português falado é idêntico. No Brasil vemos isso de forma bem clara, temos o português gaúcho, o português mineiro, o português paulista, entre outros. E, até mesmo dentro destes estados, percebemos que o português sofre uma variação. Não conheço profundamente Portugal, mas acredito que seja a mesma coisa. Não acredito que o português de Lisboa, seja o mesmo português falado numa cidade do interior do país. Na angola, penso eu, que seja a mesma coisa.
Até mesmo se nos concentrarmos em olhar duas pessoas, talvez dois irmãos, que cresceram juntas, veremos uma variação, mesmo que pequena, entre o português falado entre eles.
Com esse fato, torna-se irracional o preconceito que ocorre contra pessoas que não falam o português falado "corretamente", pois é impensável crer que nós possamos escolher entra 300 milhões de variações da mesma língua, uma que seja taxada como a correta. É simplesmente impensável exigir que todos sigam um mesmo caminho linguístico. Cada pessoa tem um modo de falar diferente, uma forma única e individual de se expressar. E como taxaremos a correta?
Mesmo na literatura fica difícil encontrar uma forma completamente correta de escrita. Até tentamos criar uma uniformidade na forma escrita, que simplesmente é inútil. Nada contra elas, realmente creio que são necessárias para uma melhor compreensão duradoura deste tema. Mas as línguas apresentam um processo evolutivo veloz. Hoje vejo pessoas que não admitem a escrita de “vc” ou “cê” no lugar de “você” em um texto, mas se lembrarmos de que décadas atrás a escrita de “você” no lugar de “vossa mercê” não era admitida, não podemos afirmar, com ampla certeza, que as grafias “vc” ou “cê” não podem ser admitidas em um futuro próximo.
Por isso, não creio que possamos taxar certas grafias como incorretas, apenas como inadmissíveis em certo contexto espaço-temporal. Tudo depende do local onde esta grafia está sendo empregada e quando ela está sendo empregada. A grafia empregada em um processo judiciário é diferente da grafia utilizada em um livro de ficção, que é diferente da grafia utilizada em uma rede social virtual.
Mas a grafia de uma rede social virtual poderia seguir a grafia utilizada em um processo judiciário, caso o emissor (quem envia) e o receptor (quem recebe) estejam aptos e dispostos a utilizar esta grafia; enquanto que a grafia utilizada em um processo judiciário não poderia seguir a grafia utilizada apenas em uma rede social virtual.
Isso mostra apenas que, no momento, a rede social virtual pode admitir ambas formas de grafia, enquanto que o tribunal, aonde circula o processo judicial, a apenas pode admitir a forma de grafia empregada em um processo judicial. Mas isso não infere que em algum tempo e espaço, o tribunal não possa admitir, ao menos parte, da grafia que hoje é utilizada em uma rede social virtual.
Alguns podem discordar, pois a grafia “vc” diferiria da forma de falar “você”, por exemplo. Mas ao observarmos outras línguas percebemos que isso já vem acontecendo, o Inglês, por exemplo, segue padrões linguísticos de fala diferentes dos padrões linguísticos de escrita. Vemos muitas sílabas diferentes que produzem o mesmo som e muitos sons que, escritos, possuem padrões silábicos variáveis. Podemos ver as palavras Little e Catle, por exemplo. Onde “ttle” e o “tle” teriam uma dicção idêntica no português, mas em inglês apresentam dicção diferente, “Lirou” e “Quéssou” respectivamente, aproximando do português falado.
Por isso, creio que não seja absolutamente possível que, em algum tempo, possamos ver a grafia “vc” empregada em um texto oficial.
Com isso chego a duas conclusões. Primeiramente, não existe nenhuma forma de falar correta ou incorreta, tudo depende da capacidade do emissor e do receptor da mensagem em conseguirem compreender tal mensagem, com a variação de código empregada. E, também, não existe uma forma de escrever correta, apenas uma forma de escrever admitida em um tempo-espaço que pode sofrer variações.
0 comentários:
Postar um comentário